As classificações dos regimes políticos são muito relativas e alvo de muitas divergências. Conforme a cultura e o grau de desenvolvimento de cada nação, as construções locais adquirem formatos muito específicos. E no mundo atual tão multifacetado há aspectos que fogem às definições acadêmicas tradicionais, como o estado semi- teocrático do islã, o regime autocrático norte-coreana quase monárquico, os ainda quase tribais na África e Ásia, a colegiada-militar na Palestina e em Gaza, o itinerante estado islâmico e os sistemas indefinidos da Eritreia, Somália, Líbia e outros tantos. Reduzir o ambiente político-ideológico a três ou quatro tendências é caricaturizar a realidade, muito mais ampla e vasta.
Vivemos em uma era de aceleradas mudanças tecnológicas informacionais que impactam decisivamente na organização do estado, já diluídas pela ausência de fronteiras efetivas num mundo tomado pela globalização econômica, principalmente.
No ocidente, berço do estado moderno e da democracia representativa, em apertada síntese, ser de esquerda significa contestar o capitalismo e dar ao coletivo maior prevalência que os valores individuais. Outro traço é a visão estatizante, com o poder público assumindo o protagonismo como lócus dos desejos e conquistas coletivas, em busca de uma sociedade mais igualitária economicamente abarcando as diferenças dos indivíduos. As correntes mais moderadas absorvem o sistema democrático e o capitalismo, mas com restrições ao livre mercado com maior intervenção do estado na economia. A intensidade desses posicionamentos pode ser mais profunda ou superficial, conforme a concepção doutrinária adotada.
A direita é a grande guardiã do capitalismo, ofertando aos direitos individuais maior ênfase que a coletividade e, também, pode variar em suas manifestações. A dinâmica econômica, a produtividade, o consumo e os ganhos materiais são a tônica principal. Geralmente está atrelada a fundamentos morais e religiosos, ao nacionalismo, às tradições, ao xenofobismo, a intolerância, livre mercado e estado forte.
Há também o chamado centro democrático, posicionamento ideológico que busca conciliar aspectos da direita e da esquerda, renegando suas concepções extremadas. Embora capitalista, o centro democrático preocupa-se em equilibrar os direitos individuais com os coletivos. Também não é corrente ideológica homogênea apresentando diversas variações.
Por isso cabe ressaltar que nem a esquerda, nem a direita ou o centro são blocos compactos. Existem muitas fissuras e tensões doutrinárias dentro de cada uma delas.
Na origem, as expressões ‘esquerda’ e ‘direita’ surgiram na Revolução Francesa no século XVIII pelo fato de que os defensores de alterações radicais no antigo sistema monárquico absolutista ocuparem os assentos à esquerda do plenário da Assembleia Constituinte. Nas cadeiras à direita tomavam assento os que defendiam a monarquia, o clero e a burguesia, e tentavam manter ou salvaguardar aspectos do status quo que ruía, daí também a expressão ‘conservador’.
No espectro esquerdista encontramos linhas históricas autoritárias e radicais abarcadas no comunismo (marxismo, leninismo, trotskismo, maoísmo, etc) e no anarquismo, e outras mais recentes como o peronismo, sandinismo e chavismo; e correntes moderadas como o socialismo-democrático e a social-democracia europeias. Historicamente, Rússia, China e Cuba foram os principais artífices do comunismo. Atualmente se autoproclamam de esquerda, com graduações diferenciadas, entre outros, Cuba, China, México, Portugal, Nicarágua, Peru, Argentina e Venezuela.
A direita igualmente apresenta linhas doutrinárias variadas, que vão desde o capitalismo de estado de bases autoritárias, passando pelo liberalismo, neo-liberalismo e ultra-liberalismo demcráticos, todas de certa forma associadas em variados graus a posições conservadoras no ambiente social, de cunho moralista e religioso. Na sua evolução histórica, a direita esteve ao lado das monarquias absolutistas e da burguesia no capitalismo comercial, depois industrial, financeiro e informacional. Como sistema, deu origem a regimes totalitários como o fascismo, nazismo, franquismo, salazarismo etc. Na sua forma democrática, a direita se identifica com o nacionalismo, o conservadorismo inglês de Margaret Thatcher e americano de Ronald Reagan, e mais recentemente, exalta Donald Trump, o italiano Matteo Salvini, a ultradireita francesa Marine Le Pen, entre outros. O governo brasileiro se autoproclama de direita, com tendências mais extremadas e autoritárias.
O centro democrático é a posição de quem contesta os extremos da direita e da esquerda, agindo moderadamente. Muitos liberais se encaixam no centro uma vez que defendem pontos de vista considerados de esquerda por quem é da direita tradicional, e por defenderem pontos de vistas considerados direitistas pela esquerda vanguardista. O centro não é nem capitalista extremado nem socialista, mas vê a necessidade de defender o capitalismo sem deixar de se preocupar com as demandas sociais. Na visão política de centro, não deve haver extremismos ou intransigências na sociedade. Os seus valores primam pela busca do equilíbrio entre as partes num ambiente de coexistência pacífica de tolerância entre os contrários. Também tem variações que vão da centro-esquerda à centro-direita.
Na atualidade, com as repercussões provocadas pelas redes sociais, onde informação e desinformação (fakes News) disputam espaço como num verdadeiro campo de batalha, há uma generalizada confusão conceitual sobre as ideologias políticas. Mas em linhas gerais, e ressaltando a superficialidade da abordagem, essas são as visões dos espectros político-ideológicos dominantes.